Mãe em tempo integral - sim!
- Ana Kita
- 3 de nov. de 2015
- 4 min de leitura
Minha opinião talvez choque muitas de minhas conhecidas, mas eu avisei que era um blog de uma mãe de carne e osso, né? Eu falo a verdade mesmo, o que penso, seja o que for e cabe ao leitor concordar ou não, acompanhar ou desistir de ler - espero que não!
Eu sei que há centenas de mulheres que pariram ou que adotaram e não exercem a maternidade como eu conheço, como eu admiro e venero. Por alguma falha de carater, criação sem amor ou sei lá que motivo, elas simplesmente são o adulto responsável por estas crianças, talvez algumas nem devessem ser. Não há este envolvimento, este encantamento, uma educação primorosa, um esforço danado para fazer o seu melhor, às vezes nem amor ou carinho. Mas, quero crer que a maioria não é assim. A maioria pode ficar exausta, pode precisar levantar umas 5 vezes de madrugada por uns bons meses no primeiro ano de vida e ainda gritar pra quem quiser ouvir que a maternidade foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Estas mães se culpam; sofrem por cada cólica e arranhão; dividem seu almoço ou até deixam de almoçar; trocam os saltos pelos tênis, os gastos com maquiagem por mais visitas a lojas infantis; abrem mão não de um, mais de vários compromissos nortunos, shows, barzinho com as amigas, só para não estragar a rotina do bebê, não lhe fazer falta o cheirinho de mãe pra adormecer.
O que vim falar sobre essas mães, essas verdadeiras, que amam e querem o melhor para seus filhos, é que sim, elas são mães em tempo integral. Alguns empregadores veem como vantagem esta mulher afetiva, comprometida e empática a outras mães, muitos infelizmente enxergam como ponto negativo, algumas vezes por ano ela precisará ficar em casa com seu filho doente, ou levá-lo ao pediatra, talvez um dia peça para sair mais cedo para chegar a tempo na homenagem do dia da família ou numa reunião de pais e professores, quem sabe arrumar a festinha na escola. E algumas optarão por não trabalhar, por uns meses, uns anos ou não mais. Todas elas, as que trabalham nos mesmos empregos de antes da gravidez, as que procuraram uma empresa mais acessível a sua nova fase pessoal, as que abriram um negócio próprio, as que trabalham em casa e as que fazem da maternidade e/ou da casa seu trabalho: são mães em tempo integral. Ficarão angustiadas quando o nariz começar a escorrer ou a noite for difícil, estão de olho na cor, consistência e volume das fezes, querem compartilhar as conquistas do filho, mostrar a foto linda que tem dele no celular, ou a última arte que ele aprontou, desejam que ele cresça forte e saudável, e farão de tudo para isso.
Para algumas, como eu, trabalhar fora é fundamental (para me manter saudável de corpo e mente, e também pela questão financeira), entre elas há as que acham a escola um lugar maravilhoso que fará muito bem e e as que preferem uma babá ou deixar com a avó; há quem possa adiar um pouco o retorno ou precise voltar com o fim da licença, há quem fique dois anos e volte bem e confiante e quem vai adiando um pouco e pouquinho mais. Para outras não há trabalho no mundo que compense ficar com seu filhote o dia inteiro, as que temem a "terceirização" da educação, e as que acham que o desenvolvimento pode se dar tão bem em casa quanto na escola ou o inscreverá em atividades, e apagam qualquer dúvida com a certeza de que ninguém lhe daria mais amor e atenção.
Todas sentirão um aperto no primeiro dia de escola, seja a chorosa adaptação do berçário, seja a rápida despedida para correr ao parque com seus novos amiguinhos do maternal ou o envergonhado beijo de tchau já maiorzinho; elas saberão que seu pequeno cresceu, que é capaz de se virar no mundo, que lá será feliz e aprenderá muito, que ficará feliz no retorno pra casa com tanta novidade a contar, mas que de repente já não parece precisar tanto dela, sinal de que fez um bom trabalho. Ela também sente o tempo em sua ausência, a manhã nunca passou tão rápido, ou o trabalho nunca pareceu tão demorado, por um lado queria que o telefone tocasse pedindo que ela volte à escola, por o outro quer que ele esteja muito bem. Não conseguiu desligar um segundo se quer da saudade, ou pela primeira vez se ocupou por algumas horas nem pensando no pequeno. Possivelmente se culpe se a professora contar que chorou ou bateu no amigo, devia ter ficado mais tempo com ele em casa ou levado antes à escola, mas com o tempo ambos descobrirão que esse tempo é ótimo, além de ser muito bem aproveitado por ambos, quando voltam a se encontrar o amor transborda.
Então, não diga que sou mãe em tempo integral porque estou em casa com minha filha, sim, eu saí do meu emprego para estar mais alguns meses com ela, eu a considerei novinha demais para ficar na minha ausência, quis esperar para eu mesma introduzir a alimentação e ainda não encontrei um emprego, mas continuarei tão mãe, o tempo todo e para sempre, quando retornar à minha profissão. Tenho dias em que fico exausta mesmo que a louça não tenha sido lavada ou peça pro meu marido passar o aspirador quando chega do trabalho, terei também trabalhando 4, 6 ou 8h, voltando para casa correndo para brincar com minha filha, saber sobre seu dia e colocá-la na cama, mas todos os dias valem e valerão a pena, é escolha minha (e faria de novo e de novo), e só tenho a agradecer, ser mãe me faz muito feliz.
Ana Kita
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